maio 312017
 

Pessoas queridas, este post não estava nos meus “posts a escrever”, aqueles que ficam guardadinhos na minha cabeça.

Porém, desde ontem, este tema teima em aparecer nos meus devaneios. Coisa louca, hein? A gente não quer pensar em um assunto, mas aí ele fica apitando na cabeça até darmos a devida atenção.

Como sou pessoa que, quando provocada, decide esmiuçar, resolvi escrever. Este tema interessa muito, especialmente nos dias de hoje.

Este assunto vem mexendo comigo, com meus brios, minhas crenças, e me faz pensar no dia de amanhã. Mas isso, obviamente, não começou ontem (como o danado título deste post), mas há alguns meses, talvez há mais de ano.

E olha, nem vou começar falando sobre crise. Porque realmente a coisa toda do artesanato como profissão, todos estes questionamentos, acontecem já há algum tempo.

Faz uns 8 anos, se não mais, que não aumento o preço das minhas peças. Se já era difícil vender, ainda que não tanto, imagina subindo o valor…

Algumas artes parei de fazer, como números residenciais, porque se contar o tempo pra fazer, e o valor que cobram por aí, fica inviável.

Meu trabalho é caprichado, de bom gosto, levo tempo pra fazer, e tudo tem o seu valor.

Todos os meus fornecedores aumentaram preços: o serralheiro, o vendedor de molduras, a madeireira, a loja de materiais pra mosaico, o carreto, entre outros. Fora isso, tem contas fixas, como luz, água, contador, impostos, entre outros. Me digam o que não aumentou?

Desde o ano passado percebi que estava trocando seis por meia dúzia, e mesmo assim pensei: Ahhhhh, não é bem assim… E continuei. E consegui.

Só que isso me custou noites de sono, e todo dia descobrir um santo para cobrir outro.

Hoje, com todos estes pensamentos, uma moça me ligou do Rio, perguntando se eu faria cadeiras de ferro. Sim, eu faria, mas não faço mais… Ela me perguntou se eu poderia indicar alguém, e eu disse: Olha moça, quem eu conheço não está mais fazendo, então não sei. E expliquei pra ela que não valorizam o trabalho manual, por isso as pessoas estão parando.

Depois fiquei pensando que nem sei porque me expliquei, mas que foi ali que eu me achei!

Eu consegui organizar vários pensamentos soltos, na explicação que dei para aquela cliente, que deve ter me achado “diferentona”.

Sabe, eu não estou aqui pra reclamar, nem pra mostrar meu valor. Isso é meu e ninguém tira. O que não consigo mais é “me vender”, entendem?

Decidi escrever este post porque sei que tem muita gente querendo largar tudo pra ser artesão, tem muita gente desempregada, e tem uma crise SIM SENHOR assolando nosso amado Brasil.

Então hoje eu posso falar, e dar minha opinião. Eu estou nesse meio de artesanato há quase 20 anos e nunca passei por algo tão assustador.

O que eu fiz, e que tem me ajudado?

Estou cortando tudo que dá, especialmente o que depende de terceiros.

As peças de ferro aumentaram muito, então ofereço somente a base com o mosaico, ou a base mais a parte do ferro. O cliente escolhe.

Faço peças onde o investimento é menor. O que é impossível pra mim é fazer qualquer coisa correndo, para ter preço “bom”, entendem? Prefiro fazer algo mais trabalhoso e de maior valor, se ali minha alma está.

Parei de investir. Só compro o que preciso, e nada mais. Se vender e eu precisar de material, aí eu compro.

Como não dá para abaixar mais os preços, estou fazendo uma mega liquidação do que tenho para pronta-entrega.

Quando constatei os fatos, fiquei muito triste, pois percebi que muitos de meus sonhos estavam ali, morrendo na beira da praia. Porém, esta tristeza serviu somente pra me fazer enxergar um outro lado. Eu estava evitando lidar com tudo isso, e agora consigo olhar pra tudo de frente.

Ainda não sei como será tudo daqui pra frente, mas me vejo cada vez menos na área de vendas. Acho que na real essa nunca foi minha área, mas como sou bem flexível consegui me manter durante muito tempo nela.

Sou uma artesã de alma, a arte pulsa em minhas veias desde que me conheço por gente. Mas sinceramente não vejo como viver nesta profissão, na área de produção e vendas, pelo menos não neste momento. Volto a falar: Não se preocupem, pois me sinto livre agora!

Vejo muitas pessoas começando e vejo muito futuro, vários artesãos em ascensão. Mas me vejo mais ligada a outras áreas, como a de oficinas, palestras, eventos, entre outros.

E tenho alguns amigos como eu. Vendiam pencas há alguns anos, e hoje seguiram por outros caminhos.

Tenho amigos que dizem que esta profissão está em extinsão, que hoje é tudo da China, de fábricas, etc.

O que importa é trabalhar com aquilo que a gente ama. Eu amo arte, amo ensinar, amo conectar pessoas, e é por aí que tenho seguido.

Cada um sabe de si, e cabe a cada um escolher seu caminho. Meu caminho é o do amor, e da coragem em escolher o que me faz feliz.

Depois de escrever tudo isso, e ainda com muitas coisas pra falar, mas sem saber como escrever agora, posso dizer que sim, acredito nesta profissão, mas em um modelo mais low profile no momento.

Se vocês aceitarem conselhos, eu digo: Não aluguem nada enorme, não invistam muito, comecem pequeno, vejam o que vinga e o que não vinga. De uma certa forma, é isto que estou fazendo no meu novo mundo, não é mesmo?

Ahhhhhhh! Vivam o seu sonho, e não o de outra pessoa. Busquem inspiração, mas criem! Criatividade é essencial!

Deixem sua personalidade aflorar! É isso que faço hoje!

Quanto ao artesanato como hobby em ascensão, é o que faz meus olhos brilharem! Meus alunos chegam aqui pra aprender, e descobrem que são capazes de fazer artes incríveis! E isso faz a pessoa crescer, se valorizar! Ela vai se enxergando nesse mundo doido, através da arte. Isso é incrível, é uma terapia, é fazer nascer um sorriso a cada dia!

Ahhhhhh gente, estou emocionada escrevendo este post. Quando eu gravo meus vídeos e falo de mim, de meus sentimentos, muitos de vocês dizem que sou sincera, transparente. Por isso estou aqui honrando vocês!

Acho que, há algum tempo, não teria coragem pra postar tudo isso, mas, como disse, hoje sou livre, e sei que este post pode ajudar. Quem sabe, né?

O mais importante é buscar o que nos faz felizes. Eu estou feliz agora!

Comentem, deixem suas opiniões por aqui!

Um beijão e um lindo dia pra gente!

Vero

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Tenho um atelier em Perdizes, um lindo bairro de São Paulo. Trabalho com mosaicos, pintura em vasos e telas, pintura e customização de móveis e objetos de decoração. Em meu atelier, tenho peças para pronta entrega, e faço a maioria sob encomenda, de acordo com as preferências dos clientes. Adoro reutilizar objetos que iriam para o lixo, transformando-os em peças decorativas! Ministro cursos! Meu blog é uma extensão de meu trabalho. Amo mostrar aqui tudo que faço, assim como as artes de meus alunos! Adoro fazer passo a passo e tentar ensinar um pouco do que aprendi para quem mora longe. Sejam bem-vindos! Sintam-se em casa! Para falar comigo, escrevam para [email protected]

  12 Responses to “Artesão – Uma profissão em extinção? Um hobby em ascensão?”

  1. Que triste post!
    Porém, tão verdadeiro… Só não podemos deixar o prazer morrer… Não podemos deixar de valorizar o que fazemos..
    Sua arte é linda e realmente é necessário abrir mão de algumas coisas, porém, nunca deixe de sonhar…
    Super beijo e uma ótima semana…
    http://meusamoresvariedades.blogspot.in

  2. Querida Vero, desejo que tudo dê certo para você e que seja apenas uma fase difícil no nosso país e que essa fase passe logo.
    Você é inspiração para muitas pessoas, fez a diferença na vida de muitos, mesmo sem nem os conhecer!
    O seu trabalho possui significado e é o que muitas pessoas buscam e não conseguem encontrar.
    Você se encontrou e isso é uma bênção.
    Infelizmente as contas não esperam e temos que honra -las, mas se Deus quiser tudo ficará melhor.
    Grande beijo desta amiga virtual, que torce muito por você.

  3. Boa noite !
    Como sempre, seu texto foi feito do fundo da alma. Me permita contar minha experiencia no seguimento hobby. Comecei, no estilo faça vc, para me encontrar como pessoa já que estava em uma faze difícil da vida. Ocorre que, depois de superada a etapa ruim comecei a postar o que faço em minha garagem, e óbvio começaram a perguntar o preço das peças, que embora rústicas e despojadas, e eu sempre dizia que não fazia para vender. Diante de inúmeras insistências calculei o preço do material, as horas gastas e resolvi cobrar. Minha decepção foi ouvir frases do tipo; “tudo isso ? É só cortar madeira, pintar….” E olhe que os preços são bem a baixo dos cobrados na internet. Resumo, voltei a ser hobbysta, só faço peças para presentear amigos e o melhor de tudo, mantenho minha mente sã. Tenho muita fé que sua persistência lhe trará resultados brilhantes. Posso até não ser seu cliente, mas acredite, sou fã de longa data do seguimento que vc pratica. Boa sorte !

  4. Estou emocionada com o post. Não desista, Verô. Assim como tantas outras, este crise vai passar. O importante é criar meios de contorná-la neste momento. Abração de urso pra vc.

  5. Verô, minha linda! Eu chorei com o seu post, acredita? Estou aqui em lágrimas me recuperando, quanta mensagem linda de entendimento, autoconsciência e autenticidade tem em todas as suas palavras! Com certeza esse novo caminho será de brilho, muito mais do que você já tem em sua vida! A intuição já estava batendo à tempos na sua porta, e quem bom que você a deixou entrar em sua vida! Sucesso para ti, Verô!
    Finalizo o meu comentário, copiando uma frase do seu texto que será o meu mantra de hoje: “Meu caminho é o do amor, e da coragem em escolher o que me faz feliz.” Que lindo!
    Beijo grande! Tha!

  6. Vero, lindo post. Realmente é isso que está acontecendo. As pessoas não estão dando valor ao artesanato, estão comparando com produtos da China e não pensam no caminho até chegar no produto. Eu sempre quis trabalhar com artesanato mas não consigo fazer pelo preço que as pessoas querem e por isso fico no hobby. Uma pena vc que é uma artista maravilhosa não ter mais essa oportunidade. Mas pense que ao fechar essa porta vai abrir muitas janelas para o sol entrar. Sucesso nesse novo caminho. Bjus mil.

  7. Querida Vero, vejo a vida como ciclos. Alguns se fecham com muita doçura e suavidade; outros de forma abrupta e agressiva. Pelo seu texto absolutamente lúcido, percebo que um ciclo – que envolve muitos aspectos além da “venda” – está se encerrando de forma suave. Lembro-me muito bem quando fui no Atelier lá na Rua Delfina e você categoricamente informou que não dava cursos. Veja que transformação! Acompanho os posts das artes dos seus alunos e fico encantada com o conhecimento que você transfere! Eu mesma tive o privilégio de fazer mosaico – uma arte que jamais imaginei que seria capaz de desenvolver. Quebrar as pastilhas aí no seu cantinho foi uma glória para mim! 🙂 Vejo que um ciclo se encerra com maturidade e preparação para algo novo na busca de “soluções” para sobreviver. De fato a crise está cerceando muita gente. A situação está horrível. Mas os artistas e artesãos sempre transformarão nossos sonhos em realidade. Você, cuidou do meu banquinho de estimação com todo o carinho e aqui está ele do meu lado, colorido, feliz e sempre trazendo lindas memórias – como o dia em que nos conhecemos. Nada do que você fez é perdido! É um tesouro na bagagem da vida das 2 partes: sua e de quem teve contato com você, Beijos!

  8. Oi Vero,
    Não tinha ideia que a crise tinha chegado aos artesãos tb. Hj sou blogueira semi-profissional e como tal dependo de anunciantes, de publiposts, mas eles sumiram!!! Não dependo do blog para viver, mas conheço gente que vive de blog e não imagino como estão se virando. Eu continuo blogueira por teimosia, mas cada vez que monto um post sobre moda, levo um susto ao descobrir que este ou aquela loja on line fechou. São tantas lojas fechando!
    Espero que esta crise política passe, que o Brasil comece a andar e que possamos sim ganhar dinheiro de maneira honesta com o nosso trabalho.
    Bjs

  9. Vero, parabéns pelo texto. Sempre te admirei pelo teu trabalho e tua sinceramente. Você é muito transparente. Continue firme em teus objetivos. Bjs, Rai

  10. Vero, obrigada pelo post maravilindo!! =)
    Tenho orgulho de ter feito parte desta “nova fase” e de ter aprendido(e aprender) com você. Sinceramente, seu amor pela arte, dedicação e dom de ensinar são apaixonantes. Em minhas aulas, tinha vontade de passar a tarde no seu ateliê conversando, rindo e criando.
    Que seu “novo caminho” e que suas escolhas sejam regadas de muito sucesso!
    Gratidão pelos ensinamentos! beiijos

  11. Vero, muito obrigada por esse texto tão honesto e reflexivo. Me deu muito o que pensar. Que teus caminhos se tornem cada vez mais leves e descomplicados, pra que você possa vivenciar plenamente tua arte!

  12. Querida Veronica! Quando a gente faz o que ama, as coisas e momentos ruins simplesmente passam! Somos pessoas felizes porque amamos e fazemos o que nos dá prazer, o que enfeita o mundo, a vida de alguém com certeza! Tudo dá certo e cresce quando feito do coração, porque nós artesãs colocamos nossa alma no que fazemos! E partindo daí nada pode dar errado! A arte nunca vai acabar, a crise tá pegando mas cada vez mais vejo pessoas se descobrindo no artesanato! Profissão, terapia, fazer para presentear, tudo é válido! O prazer que sentimos ao término de cada peça por mais simples que ela seja é de um sentimento tão maravilhoso, tão grandioso que enche meus olhos de lágrima e o sentimento de emoção por saber que ” eu fiz, consegui exprimir através da arte, meu eu”, e isto é muito legal!
    Você é sua arte são especiais! Muito gratificante conhecer este mundo do artesanato. Não conheci nenhuma pessoa até hoje que faz artesanato que não seja alto astral, feliz. Somos todos assim é isto é o mais importante! Sei que o que vier bom ou ruim você vai tirar de letra, porque as atitudes e coisas boas são pra sempre!
    Com carinho
    MEG

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